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Segurança no Transporte de Passageiros no Modal Rodoviário

Esse artigo busca avaliar o cenário atual e quais alternativas os transportadores têm de forma a tornar as viagens mais seguras e aumentar o interesse dos usuários pelo modal rodoviário nas viagens de longa distância.
Reduzindo os riscos nas viagens de longa distância

Passado o susto da pandemia do Coronavírus, com números mais ou menos estáveis e baixos de mortes nos últimos 12 meses, vemos algumas coisas voltando à normalidade. O trânsito e os deslocamentos em quantidades similares ao período de antes da pandemia, por exemplo. Isso é um alívio para o setor de transporte de passageiros que tanto sofreu durante nesses 2 anos e meio. No entanto, o aumento do tráfego nas rodovias traz junto a volta do fantasma dos acidentes.

Acidentes

Infelizmente, as estatísticas mostram um aumento significativo no número de mortes por acidentes de trânsito em relação ao ano passado, veja abaixo alguns dados estarrecedores:

  • Na serra do Rio Grande do Sul, a Brigada Militar identificou um aumento de 34,6% no número de mortes entre 2022 e 2021 (fonte: Jornal Pioneiro, Grupo ZH, reportagem de 2/Jan/2023).
  • De acordo com a ABRAMET, o número de sinistros graves com ciclistas aumentou em 11% entre 2021 e 2020 no Brasil.
  • A Sec de Mobilidade Urbana de Maringá informa que houve um aumento de 20% nas mortes entre 2022 e 2021.
  • Segundo o DETRAN-DF, o número de mortes no DF aumentou de 165 para 198 entre 2022 e 2021, um aumento de 20%.
  • Segundo o Infosiga, houve um aumento de 23,9% no número de fatalidades, entre 2022 e 2021, no ABC paulista.

Existem exceções, Porto Alegre e Fortaleza registraram redução de fatalidades, provavelmente vinculadas a programas locais de melhoria no trânsito, mas a tendência geral é, infelizmente, de aumento.

O Ministério da Saúde ainda não divulgou os dados de 2022, mas, em 2021, houve uma redução de 6%, ainda sob efeito da pandemia. Já 2020 havia trocado uma tendência de mais de 10 anos e houve um aumento de 2.5%

É mais seguro ir de ônibus em um trecho de longa distância?

As estatísticas da Polícia Rodoviária Federal mostram que caminhões e ônibus respondem por 47% dos acidentes fatais nas rodovias brasileiras. Em 2021, foram 2.853 vidas, pouco mais da metade das fatalidades que ocorreram em rodovias federais no ano de 2021 (5.391) (fonte: painel CNT, infelizmente houve um aumento de 104 mortes com relação a 2020).

Veja que o número é expressivo, mas muito menor do que o número total de fatalidades no ano de 2021 (31.468, segundo o Ministério da Saúde), indicando que o número de fatalidades no trânsito nas cidades é muito maior do que nas rodovias.

Este número está praticamente estabilizado desde 2018, mesmo com o efeito da pandemia.

A base de dados é um pouco antiga, de 2014, mas estudos da UNB indicam esses números:

Segundo a NTU, 1/3 da população brasileira usa o transporte público. Considerando que para cada 200 mortes, uma foi de passageiro em um ônibus, podemos extrapolar que, em 2021, houveram 157 mortes de passageiros de ônibus, quer dizer, 0,75 mortes por milhão de habitantes (considerando informação prévia do CENSO do IBGE de que o Brasil tem 207 milhões de habitantes). Já os outros modais representariam 151 mortes por milhão de habitantes.

Se 1/3 da população vai de ônibus e 2/3 vão nos outros modais, significa que a probabilidade de você ter um acidente fatal em um ônibus é 50 vezes menor do que nos outros modais! Mas porque é tão difícil convencer a população de que é mais seguro ir de ônibus do que pegar o seu carro? A resposta é a mesma que explica por que tantas pessoas têm medo de ir de avião, sabidamente um meio de transporte muito mais seguro que o terrestre.

Acidentes que envolvem um grande número de pessoas, dão ibope. Isso causa um temor coletivo, onde a pessoa não se sente segura porque não é ela que está no comando, não está na direção, porque está colocando a sua vida nas mãos de um terceiro.

Como exemplo, essas são notícias veiculadas pela imprensa apenas nos últimos 30 dias entre 6/12 e 6/1/23 no Brasil:

Então, parte da resposta sobre o porquê as pessoas preferem ir no transporte individual ao invés do coletivo, está na imagem das empresas. Infelizmente, há pessoas que até hoje lembram do acidente da TAM no aeroporto de Congonhas que matou 154 pessoas há 15 anos atrás. Sim, não houve mais nenhum acidente aéreo nem próximo desta magnitude no Brasil em 15 anos, mas continua sendo motivo de medo para muita gente pousar em Congonhas.

E a estatística fria não serve, mesmo que se diga que há um pouso ou partida a cada 6 minutos todos os dias das 6h00 às 23h00 neste aeroporto, ininterruptamente, há 15 anos sem um acidente grave (imagine a quantidade de pousos e decolagens que estamos falando), basta um avião estourar um pneu (como aconteceu no mês de novembro de 2022 e não causou nenhum acidente, apenas o desconforto dos passageiros, muitos cancelamentos e atrasos) para as pessoas voltarem a aquecer os seus temores internos.

Melhor prevenir do que remediar

Sabendo do grave impacto na imagem da empresa, que é o acidente, a prevenção é a melhor alternativa. E a prevenção passa por alguns fatores:

  • Humano
  • Planejamento
  • Equipamento

Fator Humano

Há diversas causas de acidentes relacionadas ao fator humano, mas podemos dividi-las nas categorias abaixo, de forma a estudar melhor como podemos reduzir o risco neste quesito:

Imperícia – isso está relacionado à capacidade do motorista em dirigir e reagir às diversas situações de risco impostas a ele durante a viagem. A experiência do motorista, os treinamentos, o conhecimento dos equipamentos que está dirigindo, e o conhecimento da estrada, são pontos fundamentais. Para mitigar riscos, é importante buscar motoristas que já tenham experiência naquela rota. Caso seja uma das primeiras vezes, o instrutor deve estudar com ele o rotograma e apontar as áreas de risco para que ele esteja preparado.

Se houver atualização nos veículos, um treinamento e atualização é fundamental, pois os novos veículos, mesmo tendo diversos equipamentos e sensores que aumentam a segurança, devem ser dominados na sua plenitude pelos motoristas para que eles os utilizem de forma correta.

Se o motorista tiver experiência na rota, mas não naquele veículo, o perigo pode ser ainda maior. Um treinamento no veículo que ele ainda não conhece e colocá-lo para entender aquele veículo em rotas e horários de menor risco, pode ser uma boa alternativa para que ele ganhe experiência sem aumentar o risco dos passageiros.

Imprudência – sempre apontada como uma das maiores causas dos acidentes, a imprudência se caracteriza por excesso de confiança, ou por algum distúrbio psicológico, como a depressão. O motorista dirige acima dos limites de velocidade, se arrisca fazendo curvas gerando forças centrípetas que podem tombar o veículo, entra muito rápido em alças de acesso, rotatórias, cruzamentos e outras áreas de risco, onde normalmente ocorrem os acidentes.

As empresas de transporte de passageiros normalmente possuem programas de conscientização e algumas implementaram soluções de telemetria embarcada que monitoram constantemente o perfil de condução dos seus motoristas. Isso é a base para programas de incentivo que ajudam a valorizar os profissionais mais prudentes e incentivam os imprudentes a terem a sua mudança de mentalidade. Uma análise psicológica dos motoristas também pode identificar indivíduos depressivos e com perfil agressivo, são condições que podem ser tratadas e, muitas vezes, abolidas. Mas, em alguns casos, não é a pessoa adequada para este tipo de profissão e deve ser substituída por alguém que tenha o perfil adequado.

Distração – também uma forma de imprudência, mas colocamos a parte pelo aumento na sua relevância, como causa de acidentes. A distração se refere a coisas que o motorista faz enquanto dirige que tiram a sua atenção da estrada. Tipicamente, era quando ele pegava coisas soltas na cabine, comida, bebida, ou mexia no rádio, mas, nos últimos anos, os maiores casos são o uso do celular. Seja para falar, , digitar, gravar ou ouvir, áudios, ler mensagens, navegar na internet ou ver vídeos, o celular é uma ferramenta quase magnética para tirar a atenção da estrada. Enquanto o motorista está passando uma mensagem, o veículo à frente pode frear, um animal pode cruzar a pista, uma criança ou um ciclista pode cair na pista, enfim, tudo pode acontecer e causar um acidente. Já se fala em quase 20% dos acidentes serem causados por esse tipo de distração, mas não há, ainda, uma estatística confiável. Além das campanhas internas de esclarecimento, várias empresas começaram a colocar sensores através de câmeras de vídeo inteligentes que monitoram o motorista, identificando se ele está usando o celular. É uma forma bem eficaz de coibir o uso, mas o custo ainda é um desafio para a implementação. O transportador deve avaliar o risco da operação com relação ao custo de um acidente tanto de pessoas, equipamento quanto para a imagem da empresa, para avaliar os investimentos nesse tipo de tecnologia.

Fadiga – outra das maiores causas dos acidentes e uma de suas maiores dificuldades, é como reduzir o risco. A causa da fadiga é uma só, a falta de descanso. A dificuldade é como garantir esse descanso. Desde a implementação da lei 13.103/2015 os motoristas devem fazer 11 horas de interstício entre um dia e outro de direção. Isso deveria ser tempo suficiente para que eles possam descansar e estar em condições de dirigir novamente no dia seguinte. Ocorre que nem sempre isso acontece. As causas podem ser de natureza médica ou situacionais.

No caso médico, uma análise clínica periódica pode ajudar. Identificando situações de apneia do sono, distúrbios hormonais, ou o uso de drogas excitantes. Uma análise psicológica pode identificar casos de depressão que, além de reduzirem o sono, podem trazer a outros problemas comportamentais como a imprudência. As causas situacionais podem ser de vários tipos, um casal com bebê pequeno, ou um pet novo, alguém que esteja estudando a noite, ou simplesmente um novo hábito como ver filmes até altas horas da noite. Todos podem reduzir o ciclo do sono reparador e ter o seu impacto.

Para esses, o melhor remédio é a observação, motoristas com sinais de cansaço, olheiras, falta de atenção, falando devagar, alterações de comportamento, irritabilidade etc. A equipe de apoio deve ser treinada a identificar esses sinais, e conversar constantemente com os motoristas para entender se há algo que esteja afetando a sua capacidade de dirigir e agir de acordo. Melhor dar uns dias de folga para ter um profissional 100% apto do que se arriscar a ter um acidente.

Também para a fadiga, várias empresas estão investindo na telemetria de vídeo que, assim como no uso do celular, identifica sinais de fadiga, piscar lento dos olhos e bocejos. O ponto chave aqui é que a tecnologia identifica e alerta o motorista, mas, se ele está dando sinais de fadiga, isto deve ser tratado na sua causa, pois nenhuma tecnologia é capaz de acordar alguém que esteja em um estado de extrema fadiga. Além disso, um motorista fatigado tem reflexos reduzidos e pode não reagir a tempo suficiente de evitar um acidente. Portanto, o ideal aqui é trabalhar na prevenção e usar o sensor de fadiga como auxiliar para identificar os motoristas que estão precisando ser tratados.

Planejamento

Talvez um dos itens mais menosprezados na estratégia de combate ao risco dos acidentes, mas certamente um dos mais importantes é o planejamento. Planejando bem as rotas e a escala dos motoristas, você consegue reduzir muito o risco. Procure identificar os motoristas mais experientes em cada rota e, os inexperientes, procure formas de treinar e ganhar experiência em operações que envolvam menor risco. Se houver troca de veículos, capacite os motoristas na nova plataforma antes de eles entrarem nas viagens. Comece a usar os novos veículos nas viagens com menos risco para eles ganharem experiência.

Treine e atualize os instrutores. Planeje as paradas para que os motoristas não dirijam por muitas horas. Instrua os motoristas a caminharem durante a parada, estudos mostram que caminhar oxigena o cérebro e reduz a fadiga. Planeje as refeições também e instrua os motoristas a se alimentarem corretamente de forma a consumirem alimentos nutritivos, mas que não tenham alto valor calórico, pois a digestão desses alimentos causa sono. A primeira hora de direção depois da parada ou na manhã, é onde ocorre grande parte dos acidentes. Prepare os motoristas para essa situação de forma que eles estejam mais atentos e evitem as distrações durante essa hora. A última hora da viagem é outro ponto crítico. Os motoristas já estão mais cansados e com menos reflexos. E a sensação de que já estão chegando às vezes abre o caminho para a imprudência e a distração.

Prepare os motoristas para essas situações através de uma conversa. Se possível, sempre converse com os motoristas antes da viagem analisando o rotograma, vejam as áreas de risco e peça para eles mentalmente planejarem a viagem. Se houver alguma informação de risco prévia, alerta de chuva, neblina, algum acidente na rodovia, já discutam como ele deve agir para reduzir ao máximo o risco na viagem. Um motorista preparado para fazer a rota, tem um comportamento muito mais seguro.

Equipamento

Aqui a garagem de manutenção tem papel fundamental. Sempre devem fazer as revisões periódicas especialmente nas peças de segurança e suspensão do veículo. Isso inclui toda a iluminação, lanternas e faróis, bem como os cintos de segurança, do motorista e passageiros, pneus e sua calibragem além do sistema de freios, balanceamento e geometria. Os veículos mais novos dão códigos de falha na cabine, indicando tanto problemas que precisam ser resolvidos imediatamente quanto problemas que devem ser tratados durante as paradas. Não aguarde uma viagem para resolver um desses problemas e tente saná-los antes do motorista pegar o veículo.

Para a manutenção e segurança do veículo, a telemetria também pode ajudar identificando problemas enquanto o veículo estiver na estrada, de forma que a manutenção corretiva, se for o caso, pode ser agendada imediatamente através de um alerta gerado para a torre de controle, mas o ideal é sempre trabalhar preventivamente, pois manutenções corretivas causam muito desconforto aos passageiros além do risco de assalto nas estradas. Sem contar o altíssimo custo para fazer o socorro e, claro, o risco de acidentes dependendo do tipo de problema.

Outro ponto muitas vezes ignorado é a rotina de inspeção. Um checklist bem realizado vai identificar diversas situações de risco que poderiam ser evitadas antes do veículo sair para a viagem. Desde calibração dos pneus, pressão do óleo, temperatura do motor, estado dos faróis e lanternas, dos cintos de segurança até os códigos de falha registrados no computador de bordo, tudo são coisas facilmente identificáveis e podem ser corrigidas antes de saírem para a viagem.

Imagem da empresa

Por fim, como contrabalançar a mídia focada em acidentes com mensagens positivas que façam a opinião pública entender que a viagem de ônibus é mais segura? Um bom começo é publicar todas as atividades internas que a empresa faz para reduzir o risco de acidentes. Se você trocou os veículos, publique as novidades que trazem mais segurança nos novos veículos, freios ABS, p.ex. Faça notar que a empresa tem veículos novos e que os passageiros estão seguros. Mostre a rotina de inspeção dos veículos e publique os treinamentos que os motoristas receberam. Se você implementar um programa de benefícios para os motoristas mais prudentes, publique também. É importante o público entender que quem está dirigindo o veículo é uma pessoa motivada no sentido de fazer a viagem o mais segura possível. Uma entrega de um prêmio para o melhor motorista, uma cesta básica para os melhores motoristas, podem ser filmadas e publicadas, é uma forma simples e barata de mostrar as atividades da empresa relacionadas à segurança. Se fizer alterações no planejamento, publique também, mostrando como elas podem aumentar a segurança da viagem. Mostre a garagem fazendo a manutenção dos veículos, inspecionando freios, pneus etc. Se implementar novas tecnologias relacionadas à segurança, sensores de fadiga, câmeras, telemetria, mostre para o público para que eles saibam que estão viajando com mais segurança.

Mas como mostrar essas atividades? Há diversas formas de fazer isso. Você pode publicar em sua página nas redes sociais, em um blog, no site da entidade de classe ou na mídia através de assessoria de imprensa. Os executivos da empresa devem se expor sempre que possível, dando entrevistas aos meios de comunicação, que estão abertos a este tipo de comunicação, reforçando as atividades que a empresa faz para aumentar a segurança.

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